Uma descoberta feita em pessoas mortas pela doença de Creutzfeldt-Jakob (MCJ) lançou a hipótese de uma forma de transmissão pela doença de Alzheimer, segundo uma pesquisa divulgada pela revista Nature.
Lesões cerebrais chamadas angiopatia amiloide cerebral (depósito de proteínas amiloides nos vasos, ndlr) que sinalizam geralmente a doença de Alzheimer, foram encontradas de forma surpreendente na necropsia de pessoas mortas relativamente jovens (entre 36 e 51 anos) pela doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ).
As vítimas da DCJ não chegaram a apresentar em vida qualquer sintoma da doença Alzheimer e também não mostravam na necropsia outro grande sinal de Alzheimer, a acumulação da proteína Tau.
As oito pessoas estudadas foram contaminadas por priões anormais - agente patogénico da doença de Creutzfeldt-Jakob - após tratamentos para crescer sob forma de injecções da hormona de crescimento retirados de hipófise humana contaminada (glândula situada no cérebro e recolhida nos cadáveres).
O estudo, conduzido por um grupo de pesquisadores britânicos, «sugere que o peptídeo beta-amiloide (que se acumula no cérebro das pessoas afectadas por Alzheimer, ndlr) pode ser potencialmente transmitido por meio de certos procedimentos médicos», informou a Nature em comunicado.
As misturas de hormônio de crescimento injectadas nestas pessoas quando ainda eram crianças eram não somente "contaminadas por priões, mas também por 'grãos' de peptídeos beta-amiloides", explicou um dos autores da pesquisa durante uma apresentação à imprensa.
"Mas não há provas da possibilidade de transmissão direta de contágio de homem a homem tanto para a doença de Creutzfeldt-Jakob quanto para o Alzheimer e não há razões para alarme", afirmou.
Esta observação vem confirmar um mecanismo de propagação para as "sementes" do peptídeo beta-amiloide já descrito em experiências com animais, explicou o especialista francês em Alzheimer Philippe Amouyel, do Institut Pasteur Lille/Inserm.
Esta observação de transmissão ocorreu num contexto totalmente invulgar pela injecção da substância extraída de cérebros humanos, o que hoje em dia não se faz mais. Nenhum elemento permite concluir que esta situação possa ocorrer em circunstâncias da vida cotidiana, ressaltou.
"Este estudo corre o risco de ser transformado numa grande fonte de desinformação", alfinetou David Allsop, da Universidade de Lancaster, apontando que não se sabe se estas pessoas que teriam desenvolvido a doença de Alzheimer, teriam vivido tempo suficiente.
Esta descoberta foi feita num pequeno número de pacientes e merece mais investigação, avaliou Eric Karran, especialista da fundação britânica Alzheimer's Research.
"Os principais factores de risco para a doença de Alzheimer são a idade, ao lado da carga genética e do modo de vida. Caso seja confirmada a relação entre uma contaminação antiga por tecidos e a doença de Alzheimer, isso só atingiria uma pequena proporção das pessoas contaminadas", explicou.
Fonte: Diário Digital
Comentários
Postar um comentário